A tecnologia e-Power da Nissan chega à Europa através de novas versões do Qashqai e da mais recente geração do X-Trail. Em teoria é um híbrido, mas na prática oferece uma experiência de condução semelhante à de um elétrico. Fique a saber como funciona e quais as vantagens desta solução.
A tecnologia e-Power foi inicialmente lançada pela Nissan em 2017 no mercado japonês, tendo sido escolhido o utilitário Note para a estrear, com bastante sucesso. Agora, chegou à Europa, num estágio de evolução superior e para já equipando duas versões do Qashqai e da mais recente geração do X-Trail.

O e-Power é um sistema híbrido que utiliza um motor elétrico e um motor a gasolina. Mas o seu princípio de funcionamento não é igual ao de outros “full hybrid” que se podem encontrar no mercado. É um sistema exclusivo da Nissan que apresenta um conceito diferente.
Para um público específico
É também um sistema destinado a um público concreto, o dos utilizadores que não estão interessados em utilizar um híbrido “plug-in”. Seja porque não lhes agrada a ideia de ter que carregar a bateria diariamente, para dele tirar a máxima eficiência; seja porque não têm acesso fácil a um posto de carga público ou a uma tomada doméstica.

A dificuldade em aceder a um ponto de carga diariamente, seja na habitação, seja no local de trabalho, leva muitos utilizadores a não optar por um veículo elétrico, nem mesmo por um híbrido “plug-in”. Mesmo se 70% do tempo de utilização de um automóvel, na Europa, seja feita em meio urbano, aquele onde a tração elétrica traz mais vantagens.
Híbrido em série
Contudo, estes utilizadores procuram uma motorização menos poluente e com uma experiência de condução diferente daquilo que encontram num modelo movido apenas por um motor de combustão interna convencional.

É precisamente para estes consumidores que a Nissan concebeu o sistema e-Power. Na teoria, trata-se de um sistema que se designa por híbrido em série, ou seja, utiliza um motor elétrico que se encarrega de mover as rodas e um motor a gasolina, que funciona apenas como gerador, armazenando energia numa bateria.
Tração sempre elétrica
A tração às rodas é sempre feita por um motor elétrico, de 140 kW (190 cv) no caso do Qashqai, proporcionando assim todos os beneficios de utilização de um automóvel elétrico, desde logo a suavidade de funcionamento, o baixo ruído e a disponibilidade do binário máximo desde o arranque, que neste caso vale 330 Nm.

A tecnologia de controlo do motor foi aperfeiçoada, usando a enorme experiência da Nissan, adquirida nas duas gerações do Leaf, no sentido de modular o binário no arranque e evitar assim as vibrações no sistema ou excessos de binário, que poderiam tornar a condução desconfortável.
Motor 1.5 inovador
A bateria de iões de Lítio tem uma capacidade de apenas 2,1 kWh, para não ser pesada, está alojada sob os bancos dianteiros e é carregada por um conjunto composto por um motor a gasolina 1.5 de três cilindros, turbocomprimido com 156 cv e um gerador acoplado. A grande diferença para os outros híbridos é que este motor a gasolina não faz mover as rodas, por isso pode funcionar nos regimes em que obtém a sua melhor eficiência.

A Nissan inovou também no que respeita a este motor a gasolina, pois tem taxa de compressão variável. Com esta variação de compressão, consegue otimizar os chamados ciclos de calor e atingir uma eficiência de 40%, muito elevada para um motor a gasolina, e isto praticamente a todos os regimes de funcionamento.
Taxa de compressão variável
A taxa de compressão varia entre 8:1 e 14:1 o que é conseguido recorrendo a um atuador que faz variar a posição de uma manivela colocada entre a cambota e as bielas. A alteração de posição desta manivela faz variar o curso efetivo dos êmbolos e com ele a taxa de compressão.

Em situações de velocidade constante e pouca aceleração, o motor adopta uma taxa de compressão maior, de modo a otimizar os consumos e emissões.
Quando se acelera mais e o motor precisa de maior resposta, a taxa de compressão desce para valores mais baixos, permitindo fazer subir a pressão do turbocompressor e ter mais potência, sem perigo de o motor entrar em detonação.

É a gestão do motor que faz a variação entre os dois extremos da taxa de compressão, sem intervenção do condutor e com uma transição suave e impercetível.
Utilização simples
O sistema não precisa de caixa de velocidades, devido ao binário elétrico disponível desde o arranque, típico dos motores elétricos. A energia produzida pelo gerador, accionado pelo motor a gasolina, é dirigida através do inversor para o motor elétrico, para a bateria ou para ambos ao mesmo tempo, dependendo das solicitações.

Ou seja, no e-Power não há função “plug-In”, nem cabos para o condutor ter que ligar. O motor a gasolina trata de repor a energia na bateria, sempre que necessário, mas funciona apenas 11% do tempo, cerca de metade do que acontece num híbrido convencional.
Sistema E-Pedal
Naturalmente, conta também com a ajuda da regeneração, na travagem e na desaceleração. Existe um botão para accionar a função “e-pedal” que faz aumentar a intensidade da regeneração, tornando desnecessária a utilização do pedal de travão em muitas situações.

Segundo a Nissan, em 70% dos casos de condução em cidade, é possível conduzir apenas com o acelerador, pois a regeneração cria um efeito de travagem suficiente quando se desacelera, equivalente ao de uma travagem normal. Mas não imobiliza o veículo por completo, obrigando o condutor a usar o pedal do travão, para se manter alerta.
Linear Tune: o que é?
Outro aspeto trabalhado pela Nissan e que usualmente é alvo de críticas dos utilizadores, foi a proporção entre a subida de regime do motor e a aceleração. Para evitar o efeito sonoro semelhante ao das transmissões de variação contínua, a Nissan desenvolveu o Linear Tune.

Trata-se de uma estratégia de comando do motor que relaciona de forma mais linear a posição do pedal de acelerador e a subida de rotação. A taxa de compressão variável e a presença de um turbocompressor tornam esta tarefa menos complicada que noutros sistemas híbridos.
Conclusão
O sucesso do Nissan Leaf, como pioneiro da mobilidade elétrica em grande escala, ficará para os livros da história do automóvel. Mas a marca mostra que está atenta às necessidades de outro tipo de utilizadores, ao introduzir a tecnologia híbrida e-Power. Esta inovação surge incluída no plano de investimento da Nissan na eletrificação que está estimado em 15,5 mil milhões de euros nos próximos cinco anos.
Francisco Mota
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