Para baixar a média de CO2 da sua gama à venda na Europa, a Suzuki recorre a modelos híbridos, Até aqui, nada de novo. A diferença, face a outras marcas, está na maneira como o faz. Para ter esta carrinha Swace 1.8 Hybrid no seu catálogo, beneficiou da solidariedade de um marca conterrânea.
A Toyota nunca teve a iniciativa de criar um grupo industrial, ao estilo do grupo VW, que juntou várias marcas com origens diferentes e depois concebeu as plataformas e motores que todas partilham.
Pode dizer-se que a presença global da Toyota e a dimensão das vendas dos seus modelos não exigiram outras medidas para chegar a número um. Mas isso não quer dizer que deixe de demonstrar solidariedade para com as marcas suas conterrâneas.

A Suzuki precisava de modelos híbridos para fazer baixar a média de CO2 dos modelos que vende na Europa e a Toyota forneceu-lhe duas soluções. O Across, que já testei aqui no TARGA 67 e esta carrinha Swace.
Elementar…
Não é preciso a astúcia de Sherlock Holmes para descobrir que o primeiro é um RAV4 com uma frente ligeiramente diferente e que a carrinha Swace faz o mesmo exercício com base na Corolla Touring Sports.

As diferenças entre a carrinha com a marca Corolla na tampa da mala e a sua gémea Swace são as indispensáveis para se distinguirem uma da outra. A grelha e os para-choques têm um desenho ligeiramente diferente e o símbolo das três elipses é trocado pelo “S” estilizado, na frente, na tampa da mala (num arranjo pouco elegante), nos centros das jantes e no volante.
Toyota tem interesse na Suzuki
Não conheço os detalhes do acordo entre a Toyota e a Suzuki para este programa de partilha de modelos, mas não se pode esquecer que a Toyota detém 4,94% das ações da Suzuki, por isso tem interesse em que a marca de Shizuoka resolva as suas questões o melhor possível.

E o melhor possível é ter acesso a um dos familiares compactos mais competentes do segmento “C” como o Corolla híbrido, neste caso usando a versão 1.8 Hybrid de 122 cv, que tem um motor a gasolina de quatro cilindros e 98 cv, ajudado por um motor elétrico de 72 cv.

Claro que nada mudou na mecânica, nem em mais nada de significativo, mas isso não é um problema quando o produto de base já tem tantas qualidades, que se reencontram na Swace.
Muito espaçosa
Desde logo no estilo, que tem a dose certa de originalidade e elegância. A passagem do logótipo da grelha para o capót faz mais diferença do que se poderia pensar.

Depois começam os atributos racionais, de que a mala com capacidade de 596 litros e acesso muito fácil é um dos mais significativos, tendo em conta que se trata de uma carrinha. Claro que, assim, o comprimento não pode ser curto, chegando aos 4,655 metros.

O espaço na segunda fila de bancos é vasto para o segmento, tanto em comprimento para pernas como em altura e mesmo a largura não fica abaixo da média.
Boa ergonomia
Nos lugares da frente há dois bancos confortáveis, com múltiplos ajustes, e muito equipamento nesta versão GLX, que é a mais cara. O computador de bordo do painel de instrumentos digital não é um exemplo de facilidade de leitura nem de elegância de gráficos e o mesmo tenho que dizer do ecrã tátil central. Mas cumprem o seu papel.

Elogios para os comandos da climatização, separados do sistema de infotainment e com botões rotativos fáceis de usar; e para a alavanca da transmissão automática, convencional mas fácil de usar. Há porta-objetos suficientes e a impressão de qualidade a bordo é boa, idêntica à da Corolla Touring Sports.

A posição de condução está bem definida, com o volante bem centrado com o banco e a coluna de direção com a inclinação certa. Os bancos não têm muito apoio lateral, mas isso acaba por não ser uma questão muito importante nesta versão.
Full Hybrid
O sistema híbrido é um “full hybrid” como agora temos de dizer para não se confundir com os menos ambiciosos sistemas “mild hybrid”. Por isso, a Swace consegue arrancar em modo 100% elétrico, desde que a bateria de iões de Lítio esteja com, pelo menos, meia carga. E depois continua por cerca de cinco quilómetros sem ligar o motor a gasolina.

Mas andar muitos quilómetros em modo 100% elétrico não é o objetivo deste sistema híbrido. O papel da parte elétrica é ajudar o motor a gasolina nas acelerações e reacelerações, bem como em situações de cruzeiro, nas quais consegue mesmo desligar o quatro cilindros e fazer segmentos em modo 100% elétrico.

O sistema é capaz de circular em cidade, durante 50% da distância, sem emissões, ou seja, movido pelo motor elétrico ou em modo roda livre, em algumas situações.
A engrenagem epicicloidal
O cerne do sistema híbrido da Toyota continua a ser a engrenagem epicicloidal, que faz uma transmissão contínua de movimento às rodas, gerindo a força elétrica e a força térmica. Por vezes, o motor a gasolina funciona em regime estacionário, outras vezes sobe de regime de forma que não parece proporcional ao movimento do acelerador.

Contudo, esse efeito sonoro de CVT está muito reduzido face a gerações anteriores do sistema híbrido da Toyota e só se faz ouvir quando se acelera mais intensamente. Numa utilização em cidade, a progressão é suave, sem solavancos nem ruído excessivo.
Há três modos de condução disponíveis: Eco/Normal/Sport, que mudam a sensibilidade do acelerador e o funcionamento da transmissão, mas as diferenças não são enormes. A função “B” de maior regeneração não é muito intensa mas funciona bem.
Consumos muito baixos
Usando o modo Eco e deixando o A/C desligado, no meu habitual teste de consumos obtive um valor de 4,7 l/100 km, muito bom para um carro que pesa 1475 kg.

Mesmo em mau piso, a suspensão e os pneus de medida 205/55 R16 fazem um excelente serviço em favor do conforto, tornando a condução muito tranquila em cidade, até porque a visibilidade é boa.
Em autoestrada, os ruídos de rolamento estão bem controlados e os aerodinâmicos também. A estabilidade não merece críticas, mas sente-se qual é a prioridade da suspensão, que deixa a carroçaria oscilar.

Quanto aos consumos em autoestrada, a diferença não é grande subindo ligeiramente aos 5,3 l/100 km, o que continua a ser muito bom.
Vocacionada para uma utilização familiar tranquila, a Swace 1.8 Hybrid tem um comportamento dominado por uma suspensão muito macia, que mantém todo o controlo e segurança, mas não incita a explorar uma condução mais rápida, não se mostrando muito reativa às ordens do condutor. As performances também não são emocionantes, com os 0-100 km/h anunciados em 11,1 segundos.
Conclusão
A carrinha Swace 1.8 Hybrid não podia ser um mau produto, tendo em conta o ponto de partida. A diferenciação deste modelo fabricado pela Toyota e vendido pela rede Suzuki foi a possível, de modo a não subir os preços que se mantêm próximos aos da Corolla Touring Sports. Para quem tenha afinidade com a Suzuki, não vai ter surpresas, a não ser positivas.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Suzuki Swace 1.8 Hybrid GLX
Potência: 122 cv
Preço: 32 722 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
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