Na comprida designação deste SUV da Audi, as letras SB querem dizer Sportback e isso faz toda a diferença. Tem uma carroçaria cheia de estilo, que o faz parecer um mini Cayenne coupé. Esta versão 45 TFSIe usa o sistema híbrido “plug-in” conhecido do Grupo VW. Teste Targa 67, para ver se o estilo se dá bem com a técnica.
Na altura em que as marcas premium alemãs disputavam a atenção dos compradores com uma oferta de carroçarias que nos fazia perder a conta ao número de modelos de cada gama, o Q3 Sporback foi uma das vedetas.
Hoje, a prioridade das marcas é a inversa, simplificar a oferta como maneira de enfrentar os constrangimentos no fornecimento de matérias primas, na produção e na logística. Como resultados, alguns modelos e versões foram postos a dormir, até nova oportunidade.

O Audi Q3 Sportback voltou agora a acordar, recebendo algumas atualizações, em termos de acabamentos exteriores e interiores, equipamento e uma versão híbrida “plug-in”.
Um “plug-in” bem conhecido
Esta versão utiliza o mesmo sistema conhecido de vários modelos do Grupo VW, como por exemplo o Golf GTE. Portanto, com um motor 1.4 turbo de quatro cilindros e 150 cv, um motor/gerador elétrico de 116 cv e uma bateria de 10,8 kWh úteis, além de uma caixa de velocidades de dupla embraiagem e seis relações que na Audi se chama s-tronic. A tração é às rodas da frente.

A potência máxima é 245 cv e o binário combinado chega aos 400 Nm, o que permite à Audi anunciar os 0-100 km/h em 7,3 segundos e uma velocidade máxima de 210 km/h. Mais importante que isso era saber qual a autonomia em modo 100% elétrico de que a bateria seria capaz.
Como um mini Cayenne Coupé
Não é preciso olhar muito para o Q3 SB para apreciar a sua silhueta de SUV Coupé. Apesar de ter apenas 4518 metros de comprimento, os estilistas da marca conseguiram um perfil elegante e desportivo, para um SUV. Não é brincadeira dizer que faz lembrar um mini Cayenne Coupé.

Assim que se abre uma das portas, de imediato se percebe que a Audi soube manter uma perceção de qualidade em linha com aquilo que oferece em segmentos mais caros. Materiais muito bons e muito bem montados, com acabamentos aplicados com critério e bom gosto.
Mas não falta espaço
O tejadilho ao estilo “fastback” torna as portas de traz um pouco mais baixas que as do Q3 “normal” mas não causa nenhum problema no acesso aos lugares da segunda fila, que têm espaço em altura mais que suficiente e bom comprimento para as pernas. O lugar do meio tem um grande túnel central, é mais estreito e duro, só para usar “em caso de emergência”.

Devido aos sistema híbrido, a mala desce dos 530 litros das versões não híbridas para os 380 litros. Mas tem bom acesso e só lhe falta um compartimento sob o piso para guardar os cabos, impossível devido à localização da bateria de iões de Lítio.
Posição de condução baixa
A posição de condução está muito bem enquadrada pelos bancos desportivos confortáveis e com bom apoio lateral. O volante tem ótima pega e amplas regulações e os pedais estão no sítio certo, assim como a alavanca da caixa de velocidades.

O condutor vai mais alto que num A3, como é lógico, mas não tanto como em muitos outros SUV deste segmento. O tejadilho baixo contribui para o ambiente coupé que se vive no interior, mais desportivo que no Q3 de tejadilho alto.
Qualidade típica da Audi
Um olhar em redor e nota-se que este Q3 SB não utiliza alguns dos componentes mais recentes de modelos do mesmo tamanho no grupo VW, mas isso não é necessariamente negativo.

Por exemplo, o ecrã tátil central tem ícones grandes, bem separados e fáceis de usar em andamento, melhor que o sistema mais recente da VW. Também tem um módulo de comandos da climatização separado e fácil de usar enquanto se conduz.
No infotainment existem várias informações acerca do funcionamento do sistema híbrido, algumas bastante detalhadas, como veremos mais à frente.
Bem confortável
O arranque é sempre feito em modo elétrico, mesmo com a bateria a marcar 0% de carga. Mas comecei o teste em cidade com a bateria a 100% e escolhi o modo elétrico.

A primeira sensação vem do conjunto suspensão/pneus. Como o Sportback tem direito a especificações de molas, amortecedores e direção mais desportivas que o Q3 normal, esperava um pisar firme e, talvez , áspero.

Mas, mesmo com pneus 255/40 R20 montados (uns Conti SportContact 6) o conforto em mau piso ou sobre bandas sonoras surpreendeu. Claro que o condutor sabe sempre exatamente o estado do pavimento, mas essa informação não lhe chega acompanhada de solavancos e pancadas secas.
Em modo elétrico
O motor elétrico de 116 cv tem enorme facilidade em fazer mover o Q3 com grande agilidade no meio do trânsito urbano. Consegue mover o Q3 sem ajuda do motor a gasolina até aos 140 km/h, segundo a Audi. Em cidade, nem é preciso pressionar muito o acelerador para deixar os carros a combustão para trás, num calmo arranque nos semáforos.

Críticas para a calibração do pedal de travão, que não é progressivo e obriga a carregar mais forte no fim da travagem, quando se percebe que a velocidade ainda não baixou o que devia. A falta de uma posição “B” de maior regenração também não ajuda.
Autonomia em modo EV
Em cidade, com A/C desligado e fazendo os meus habituais percursos, dentro das médias de velocidade que sempre uso, o meu teste de consumos em modo elétrico resultou numa média de 18,2 kWh/100 km.

Quanto à autonomia real em modo elétrico, conduzindo sempre de forma tranquila, o sistema passou do modo 100% elétrico ao modo híbrido ao fim de exatamente 46,8 km.
Nessa altura, fiz “reset” ao computador de bordo e comecei de imediato o teste de consumos em cidade, com bateria a marcar 0%. Ou seja, tratando este PHEV como um HEV, que é a maneira como muitos utilizadores de “plug-in” o fazem.
Consumos reduzidos
O consumo de gasolina que obtive nestas condições foi de 6,5 l/100, mostrando que o funcionamento em modo “full hybrid” é eficiente e consegue consumos reduzidos.

O próximo passo foi rumar à “autobahn” onde o acerto da suspensão e os pneus rapidamente provaram que a sua afinação foi feita para manter o Q3 livre das oscilações parasitas que se sentem noutros SUV, quando se encontram bossas ou depressões na autoestrada.
Um excelente estradista, com imensa estabilidade, mesmo em mudanças de faixa bruscas ou quando se anda mais depressa. Algum ruído de rolamento, mas pouco de origem aerodinâmica. O motor 1.4 turbo de quatro cilindros não tem um som melodioso, mas também não incomoda.

Em autoestrada, continuando com o A/C desligado e bateria a 0%, rolando a 120 km/h estabilizados, o consumo real foi de 7,6 l/100 km. Claro que, nesta condições, o sistema híbrido tem menos oportunidades de funcionar que em cidade.
Em modo Dynamic
Dado o aspeto desportivo do Q3 SB, os pneus que o equipam e as prestações anunciadas, impunha-se um teste em estrada secundária, com curvas a pedir uma condução mais empenhada.
Deixando os modos Comfort e Auto e passando ao Dynamic numa reta desimpedida, uma aceleração a fundo mostrou que a parte elétrica proporciona uma resposta a baixos regimes muito boa.

Depois o motor a gasolina pega no testemunho e corre com vontade até à meta do red-line, onde entra ainda com vontade de mais.
Dinâmica envolvente
A caixa tem patilhas no volante, rápidas a responder e relativamente obedientes. Mas a travagem continuou a exigir mais força no pedal do que estava à espera.
A direção não fica demasiado pesada, mas existe um modo Individual, para acertar os parâmetros em separado, dos quais os amortecedores variáveis não fazem parte.

A direção progressiva comanda uma entrada em curva rápida e precisa, com os pneus a resistirem bem à subviragem. A inclinação lateral em curva é pequena, para um SUV deste segmento, e a traseira até se deixa deslizar um pouco, se for devidamente provocada.
ESC entra muito cedo
Mas o ESC, mesmo desligando-o no botão respetivo, é sempre demasiado zeloso e entra em cena sem cerimónias, quando entende que poderá haver algum perigo.

E isto acontece tanto no controlo da subviragem como da sobreviragem. Com a aderência que a suspensão e os pneus são capazes de gerar, parece-me que a entrada do ESC é muito precoce, tirando uma parte do possível gozo de guiar este Q3.
Em modo “Charge”
No fim do teste em estrada, regresso à base em modo “Charge”, que carrega a bateria em andamento.
Precisei de percorrer 133 km, num misto de autoestrada e cidade, para carregar a bateria a 100% e recuperar a indicação de 47 km de autonomia.

Mas os consumos subiram para os 10,6 l/100 km, provando que se trata de uma maneira muito pouco eficiente de carregar a bateria. Numa tomada doméstica de 2,3 kW, a bateria carrega em seis horas e numa wallbox de 3,7 kW, demora 3h45.
Conclusão
O Q3 SB 45 TFSIe agrada pelo estilo, pela qualidade, pelo conforto e pela precisão da condução. A parte híbrida tem uma autonomia em modo elétrico mediana mas os consumos são bons. Claro que se nota que esta não é a aplicação mais recente da MQB, mas isso não tem só pontos negativos, como o prova o sistema de infotainment.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Audi Q3 Sportback 45 TFSIe s-tronic S-Line
Potência: 245 cv
Preço: 51 784 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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