O Audi Q2 30 TFSI é a versão base de gama, mas terá aquilo que é preciso num SUV compacto? O “primo alemão” do “português” VW T-Roc usa o mesmo motor 1.0 turbo de três cilindros e 110 cv e recebeu algumas atualizações há pouco tempo.
Quando foi lançado em 2016, o Q2 não impressionou muito o mercado. A qualidade dos materiais do interior estavam abaixo do normal na Audi e a dinâmica também ficava longe dos outros SUV da marca de Ingolstadt, onde o Q2 é fabricado.

Quatro anos depois, em 2020, o Q2 recebeu um restyling que passou pelo óbvio: novos para-choques, novos faróis e luzes de trás em LED, retoques nos detalhes da grelha e dos flancos, novo desenho das jantes, novas cores e pequenos retoques nas saídas de ar condicionado e na alavanca da caixa.
Além disso, tanto as soluções de conetividade como as ajudas eletrónicas à condução foram fortemente melhoradas, com elementos e funções que não estavam disponíveis em 2016.
Agora com o 1.0 TFSI
Em 2020, a motorização base a gasolina era o 35 TFSI com o motor 1.5 TSI de quatro cilindros e 150 cv. Depois chegou à gama o 1.0 TSI de três cilindros e 110 cv, a motorização que equipa o Q2 30 TFSI que testei agora.

Contada a história, já longa, do Q2 avançamos para os detalhes desta versão de entrada de gama, que tem um preço a partir dos 32 705 euros, para o nível de equipamento base e de 34 350 euros, para o Advanced que tenho para testar.

A plataforma é a mesma do VW T-Roc, uma variante da MQB-A0 que é usada nos modelos do segmento B das marcas do grupo. Desde o início, a ideia era poupar nos custos deste Q2, por isso esta versão tem suspensão traseira de barra de torção.
Visual melhorou muito
Devo dizer que os retoques no estilo e nas cores deram ao Q2 um visual muito melhor que em 2016. O facto de ter agora muito mais rivais para ser comparado também é bom, pois o enquadramento fica melhor definido.

Se, por fora, o Q2 está perfeitamente atual, já o mesmo não se pode dizer do interior, que sofre na comparação com as novas gerações de interiores da Audi: ao lado de um A3, nota-se que é um carro de outra era.

Uma era em que o ecrã central tinha (e continua a ter) um comando rotativo na consola, muito mais fácil de usar que os comandos táteis. Mas é verdade que a apresentação gráfica do infotainment envelheceu.
Novo nem sempre é melhor
O módulo de comando da climatização está fora do infotainment e a meio da consola. Tem botões físicos de rodar, que são muito mais práticos do que qualquer solução tátil. Nem sempre o mais novo é melhor.

Claro que os materiais do interior não estão ao nível de qualidade dos outros Audi, isso é mais que óbvio. Mas alguns detalhes de decoração fazem o habitáculo parecer melhor do que é.

O espaço disponível nos quatro lugares principais é correto para o posicionamento inter-segmentos do Q2. O quinto passageiro tem menos largura e um túnel entre as pernas. A mala tem 405 litros, o que continua a ser um bom valor, um A3 tem 325 litros.
Algumas coisas ultrapassadas
A posição de condução é mais alta que a de um A3, sobretudo porque no A3 se vai sentado baixo. A visibilidade é boa em todas as direções, o volante está bem posicionado e as regulações são amplas.

O painel de instrumentos digital é relativamente simples de ler e de configurar, sendo comum a outros modelos do grupo. A alavanca da caixa manual de seis está bem colocada, mas podia ser um pouco mais alta.
Um bom motor, mas…
O motor 1.0 TFSI de três cilindros tem bom isolamento acústico e não chega nenhuma vibração especial ao habitáculo. Nesta versão, não há modos de condução para escolher, um opcional noutras versões.

A resposta do motor é bem melhor quando o conta-rotações passa acima das 2000 rpm, pois ainda não tem nenhum tipo de hibridização e o binário máximo de 200 Nm só chega nessa altura.
Assim, obriga a usar bem a caixa de velocidades, o que está longe de ser um problema, porque esta transmissão de seis relações é rápida e muito suave.
Confortável e fácil de guiar
A direção tem a assistência certa e desmultiplicação variável: à medida que se afasta do ponto neutro, fica mais rápida, o que ajuda muito nas manobras e nas curvas.

Os pneus 215/55 R17 dão um visual de SUV ao Q2 e contribuem para um nível de conforto dinâmico bastante bom. Este Q2 não salta nem reclama no mau piso, mas não deixa de informar o condutor sobre o estado do pavimento.

Guiar em cidade é uma tarefa que este Q2 de 110 cv cumpre sem grandes dificuldades, a não ser quando aparecem subidas muito íngremes e o A/C vai ligado.
Consumos corretos
Desligando o A/C, como faço em todos os testes de consumos, obtive um valor de 7,6 l/100 km em cidade. Só não posso dizer que é um valor baixo porque hoje, um bom “mild hybrid” consegue melhor. E este Q2, com 1250 kg, nem é pesado.

Em autoestrada, o meu teste de consumos resultou num valor inferior, como seria de esperar. Em 6ª velocidade a 120 km/h estabilizados, o computador de bordo marcou 5,5 l/100 km, um valor bem melhor que em cidade e que permite fazer 909 km com um depósito de gasolina.
A estabilidade em autoestrada é correta, apesar da suspensão de SUV e os ruídos aerodinâmicos estão presentes, mas bem controlados.
Estabilidade é prioridade
Os 110 cv só permitem uma aceleração 0-100 km/h em 11,2 segundos, nada de muito emocionante. Mas, desde que não se deixe o motor descer das 2000 rpm, a sensação de aceleração é mais que suficiente para “despachar” uma estrada secundária com algum brio.

É claro que a suspensão alta não permite ao Q2 um controlo de movimentos tão preciso como num A3, nem sequer como um dos B-SUV de conceção mais recente. A direção faz bem o seu papel, a tração às rodas da frente não mostra dificuldades, mas os pneus altos retiram precisão.

Basta exagerar um pouco para fazer a frente subvirar e alertar o ESC. A inclinação lateral em curva é a típica de um SUV de 4,2 metros de comprimento e 1,5 metros de altura; e o acerto dinâmico está mais preocupado com a estabilidade do que com a diversão.
Conclusão
O Q2 está em final de carreira e isso nota-se em várias áreas, dos interiores à dinâmica. Mas continua a ter as suas qualidades, de que o estilo exterior será a mais forte. Tudo somado, é um produto melhor agora, do que em 2016, mas não é barato. Quanto ao motor 1.0 de 110 cv, pareceu-me suficiente, sobretudo para quem goste de usar uma caixa manual com frequência.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Audi Q2 30 TFSI
Potência: 110 cv
Preço: 32 705 euros
Veredicto: 2,5 (0 a 5)
Ler também, seguindo o link:
Teste – Audi A3 1.5 MHEV: O truque do “mild hybrid” resulta?