Carros com sete lugares são associados a famílias com mais de três filhos, são uma necessidade, mais do que uma escolha. Mas a Dacia quer mostrar que não é preciso ter quatro filhos para comprar um Jogger.
Monovolumes, essa palavra que se tornou sinónimo de aborrecimento, de última escolha, de opção feita à força, só porque não há outra maneira de transportar uma família numerosa.
A Dacia também já teve um, o Lodgy, que correspondia mais ou menos ao que disse no primeiro parágrafo mas que deixou de ser fabricado. Os clientes querem a “aventura” de um SUV, não a monotonia de um MPV. Mesmo que percam em versatilidade.

Pergunto-me como foi possível modelos como o Espace e o Scénic terem tido tanto sucesso? Antes de serem remetidos ao esquecimento. Mas as modas são modas, e não vale a pena contrariar.
Três-em-um
A Dacia diz que o Joger é uma espécie de “três-em-um” por juntar a versatilidade de um MPV, a silhueta de uma carrinha e o aspeto de um SUV. Honestamente, tenho dificuldade em encontrar qualquer dessas “qualidades” no novo modelo.

Mas isso não quer dizer que o Jogger não tenha um lugar no mercado. Um lugar solitário, pois nem a Dacia consegue identificar rivais diretos. Mas consegue identificar clientes alvo.
Começando pelo princípio, o Jogger partilha a plataforma CMF-B com o Sandero, acrescentando um módulo que lhe faz aumentar a distância entre-eixos de 2,60 m para 2,90 m e chegar aos 4,55 m de comprimento, contra os 4,09 m do Sandero.
5 ou 7 lugares
A altura máxima é 13 cm maior o que permite montar três filas de bancos no habitáculo e chegar aos sete lugares de lotação máxima. Mas há uma versão de cinco lugares, para quem quiser maximizar a capacidade da mala.
Na versão de cinco lugares, a mala leva 708 litros até à chapeleira e com todos os lugares em uso. Na versão de sete lugares, a capacidade da mala, também com cinco lugares em uso é de 565 litros.

A terceira fila é composta por dois bancos que dobram as costas para cima do assento e se podem retirar do carro, um a um. Não são pesados, nem é uma manobra complicada de fazer.
Muito espaço nas três filas
A segunda fila também se pode rebater: costas em cima dos assentos e depois puxa-se tudo para a vertical. A “gruta” resultante é gigantesca: 2085 litros até ao tejadilho.
Claro que, com sete a bordo, a mala reduz-se muitíssimo, ficando-se pelos 160 litros, mas com uma maneira de levar a chapeleira no fundo da mala restante.

O espaço impressiona também com os sete lugares em uso. Desde logo porque a segunda fila leva mesmo três adultos, com razoável conforto. O acesso à terceira fila não é um drama, porque as portas traseiras são compridas.
E depois de lá chegar há espaço para dois adultos. Não é daqueles que só servem para crianças e até tem vidros de abertura em compasso.
Anfiteatro
Para manter toda a gente bem disposta, a segunda fila é 55 mm mais alta que a da frente e a terceira é 25 mm mais alta que a segunda. Ao estilo anfiteatro, para todos poderem espreitar para a estrada.

Do habitáculo, o que mais há a dizer é que tem porta-objetos com um total de 23 litros de capacidade e várias soluções práticas: ganchos, tomadas USB, luzes interiores e um suporte para o smartphone, anexo ao ecrã tátil central.

De resto, a qualidade dos materiais parece melhor do que é, devido a alguns acabamentos inteligentes e aplicações têxteis de bom gosto: “low cost” é a última coisa que vem à cabeça de quem se sente num Jogger.
Edição limitada Extreme
O sucesso da Dacia deu-lhe até coragem para lançar esta série limitada Extreme, com mais equipamento, acabamentos mais cuidados e detalhes de decoração no interior, que fazem o Jogger ter um ar ainda mais apetecível.

Por fora, o degrau entre a altura dos vidros das portas da frente e das de trás dá-lhe um ar utilitário curioso. As barras do tejadilho podem rodar-se 90 graus e levar 80 kg de peso e os farolins traseiros estão arrumados na vertical, para deixar a tampa da mala ser o maior possível.

A altura ao solo é de 200 mm, graças em parte aos pneus de alto perfil, que lhe dão o tal visual “off-road”: 205/60 R16. Mas a tração é apenas às rodas da frente, não há opção 4×4.
Simples e eficaz
Face a um Sandero Stepway, a posição de condução é em tudo semelhante: boa colocação do volante, que tem ajustes suficientes; banco confortável, com apoio lateral suficiente.
O painel de instrumentos é bastante simples e o ecrã tátil central também, mas cumprem a sua função segunda aquele lógica da Dacia: “não é preciso mais.”

O motor mais potente da gama é o 1.0 TCe de 110 cv, o conhecido três cilindros turbo de injeção direta do Grupo Renault. Tem 200 Nm de binário máximo às 2900 rpm, mas às 1750 rpm a curva já subiu aos 190 Nm.
Em cidade
Ao volante, a primeira sensação que se tem é que o Jogger é comprido, basta olhar para os retrovisores. O que obriga a algumas cautelas ao negociar cruzamentos em ruas mais apertadas. Tem que se dar um “desconto”.

A disponibilidade do motor é suficiente, em cidade, existindo um botão para o modo Eco, que muda o mapa do acelerador para um mais inerte. Foi neste modo que fiz o meu habitual teste de consumos, que resultou num valor de 6,8 l/100 km.
É um valor bom, para um motor não híbrido, algo que deverá chegar só em 2023. Mas foi um valor obtido apenas com o condutor a bordo.

Os pneus e a suspensão altos dão ao Jogger um pisar muito confortável, o mau piso é-lhe quase indiferente.
Gasta muito pouco
Na autoestrada, o meu teste de consumo a 120 km/h resultou num valor de 5,2 l/100 km, que só se pode elogiar. Neste tipo de vias, nota-se que a insonorização face ao ruído de rolamento e do motor está bem feito. Só sobram alguns silvos aerodinâmicos menos agradáveis.

Conduzido com um pouco mais de pressa, em estradas com algumas curvas, percebe-se que os pneus altos não contribuem para uma dinâmica muito precisa. Nem a direção tem um tato muito interativo.
Melhor ir devagar
A caixa manual também se mostrou um pouco lenta e nem sempre precisa, com um escalonamento longo, que explica os consumos em autoestrada. Quando se pede mais aos motor, fica a perceber-se que realmente lhe custa dar tudo o que tem abaixo das 2000 rpm.

Ao banco também lhe falta mais apoio lateral e, na altura de travar forte, é claro que o tamanho e a altura se fazem sentir, apesar de os 1233 kg não serem um problema.
Muito seguro
A Dacia anuncia a aceleração 0-100 km/h em 10,5 segundos, um bom “tempo”, mas não me parece que o condutor típico do Jogger esteja muito preocupado com isso.

Talvez lhe interesse saber que o comportamento dinâmico passa do neutro a subvirador, numa entrada mal calculada em curva, o que se resolve facilmente: desacelera-se. E a traseira mantém-se no seu sítio, sem nenhum nervosismo.
Conclusão
Como transportador de sete passageiros ou de apenas cinco, com imenso espaço para bagagens, o Jogger tem uma versatilidade que poderá agradar a quem goste simplesmente de carrinhas grandes, com visual “off road”. Tem tudo o que é essencial e alguma coisa mal, nesta versão Extreme de sete lugares que custa 20 800 euros. A versão de entrada, de cinco lugares, custa 17 000 euros. Dá que pensar, não dá?…
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Dacia Jogger 1.0 TCe 7L Extreme
Potência: 110 cv
Preço: 20 800 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
Ler também, seguindo o LINK:
Teste – Dacia Spring: Elétrico mais barato tem 44 cv, é suficiente?